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O cenário do Rock

Talvez não haja coisa mais clichê do que falar sobre o “cenário do rock”. Todo roqueiro, toda banda, todo blog especializado, revistas de música, podcasts… todos inevitavelmente abordam o assunto.
Primeiramente acho que temos que definir de QUAL cenário estamos falando. O mainstream ou o underground? Porque em um deles é possível enxergar o futuro do velho rock ‘n’ roll.

Embora muitas vezes o cenário mainstream reflita diretamente no underground, por conta de bandas que almejam um sucesso maior surfando na onda do momento, no Rock, são dos bares sujos e porões que surgem o que o mercado vai trazer como bola da vez e também o que vai se configurar como contracultura.
Foi o que ocorreu durante toda a história do rock, na onda do Ieieiê, do Progressivo, do Heavy, do Hardcore, do Nu Metal…

Outro dia vi alguns vídeos da década de 80, documentários de bandas da época, tocando com equipamentos zoados, em lugares que dava pra sentir o cheiro de mofo só de olhar na tela do celular, galera bêbada, chapados, mas felizes e enaltecendo como a cena do rock nacional estava unida.
De lá algumas bandas ficaram grandes e muito famosas, outras tiveram fama mediana e muitas simplesmente sumiram.

Eu mesmo, que nasci no inicio da década de 80, dei uma passadinha pela cena underground paulistana em meados dos anos 90, com a primeira banda que formei. Entrei pela porta do metal extremo. Death, Black, Doom… coisas do gênero. Era tenebroso, sensação de inferno mesmo. Lugares fedendo a mijo e cerveja velha, amplificadores horríveis no talo, baterias caindo aos pedaços com pratos até rachados, urros escabrosos, gente estranha… mas todos, mesmo os carrancudos do mal, estavam empolgados com aquilo e também ressaltavam a sensação de união da cena. Claro, brindando aquilo em nome de Satã, Lilith, Samael e afins (hahaha, adolescentes malvados…).

Mas foi de cenários desse tipo que surgiram bandas como Sepultura e Krisium, por exemplo. Uns dos maiores expoentes do metal brasileiro no mundo. Sepultura, inclusive alcançados ao mainstream porque sempre tinha clipe dos caras rolando em “horário nobre” na MTV dos “bons tempos”.

O mercado dos mainstreams, por sua vez, apenas garimpa o que pode ter de mais rentável, pois o intuito é vender, ganhar muitos $$$, deixar alguns músicos ricos e fazer com que outros músicos e bandas queiram ficar ricos seguindo uma nova onda. Assim podem escolher os mais promissores financeiramente, dentro dos padrões que estabelecem, para que os lucros jamais deixem de ser exorbitantes. Um ciclo interminável, claro.
Mas é no underground que esse mercado vai buscar e é assim que ele reflete nesse cenário. É por aí que geralmente toda banda começa.

O mercado foi tirando o “peso” do gênero, removendo a atitude e a sinceridade no Rock mainstream durante os últimos anos. Padronizar algo que sempre foi tão plural foi a forma genial que o mercado encontrou de padronizar um público e assim vender mais e mais rápido para este público que o consome genericamente, no meio de outros gêneros.
Forçando a maioria a fazer um certo “rock bonitinho”, limitado à assuntos de relacionamento de casais, ou músicas feitas “praquela mina”… meio que na hora de acordar, né? Chego a confundir letras de rock com de sertanejo hoje. Sério!

O rock brasileiro está sem expressividade e sem atitude atualmente. Requentando o mesmo “formato” ha muito tempo. Isso é sabido e verbalizado pela grande maioria dos roqueiros, produtores ou quaisquer pessoas que prezam por músicas de qualidade.
Mas hoje, ao contrário da década de 90 – que tínhamos apenas as “zines” pra recorrer, temos o mundo das plataformas digitais a favor do underground. Onde toda e qualquer banda pode divulgar seu trabalho. O que tirou definitivamente os olheiros dos bares e os mandou diretamente para as redes sociais. É delas que eles buscam o que pode ser padronizado para o mercado.

O lado bom é que, sabendo que o rock precisa ser renovado, muitas bandas estão procurando fazer coisas novas e divulgando. Já sinto o cheiro de mudanças no cenário.
É normal que haja muitas bandas com propaganda de originalidade, porém seguindo a linha de “ser diferente fazendo igual ao que acha diferente” (que acredito ser apenas uma questão de abrangência de influências), mas o fato é que há espaço para todos e o sentimento do próprio público está diferente.
Hoje percebo um público mais sedendo por músicas mais significativas e vejo muitas bandas se empenhando em atende-los, expressando suas frustrações, indignações e visões de mundo.

Depois de muitos anos estou voltando ao cenário underground e confesso que, mesmo mais velho e (acho que) mais maduro, estou curtindo (quase) como um adolescente e muito feliz com o que ando ouvindo pelas noites.
Participando com Era Índigos de um projeto coletivo de bandas, o projeto Alcateia, sinto o mesmo espírito de união e vontade de fazer acontecer dos anos que se passaram. Isso é o mais importante. Enquanto houver isso o rock vai conseguir se renovar sempre que precisar. E como estamos precisando dessa renovação, meus amigos!

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  • agosto 2019 (3)
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